Fobia social, o que é?
- Valéria Santos
- 19 de mai. de 2023
- 5 min de leitura
Atualizado: 3 de out. de 2023

“Mãos suadas e geladas, coração acelerado, boca e garganta secas, respiração curta, pressão na cabeça, sensação de que é o centro das atenções, de que todos estão te criticando mentalmente e que em breve irão verbalizar as criticas, sensação de que um erro foi descoberto, sentimento de incapacidade, insuficiência, sensação de estar no lugar errado, de não pertencer ao grupo”. (M. S - 31 anos)
Essa é uma síntese das sensações de uma jovem mulher, com fobia social, esses sintomas e outros fazem parte desse transtorno, que hoje é conhecido como transtorno de ansiedade social (TAS), sintomas esses que podem ser leves ou até gerar sensações/sintomas mais intensos, dificultando o desenvolvimento cognitivo, intelectual e social.
A fobia para Freud era considerada, um mecanismo de defesa em resposta a uma angústia interna do indivíduo, que cria um “inimigo” externo, que é percebido como possível de combater.
O transtorno de ansiedade na história, pode se dizer que começou em Hipócrates, o pai da medicina, pois foi o primeiro a relatar um caso de fobia social, mesmo sem ter essa denominação na época. Ele descreveu o caso de um rapaz aspirante a filósofo, que não convivia socialmente, pelo medo do julgamento, não caminhava em público porque acreditava estar sendo constantemente observado e não expressava suas ideias filosóficas por acreditar que seria mal interpretado e por isso vivia isolado e recolhido, portanto não foi reconhecido como almejava ser, filósofo.
Em meados do século XVIII, a fobia social é tida como uma neurose e é definida pelo médico escosês Willaim Gullen (1710 - 1790), como uma doença física, causada por uma alteração da função nervosa (a neurose na época era era considerada uma doença biológica). Já no século XIX, segundo os estudos de Charcot e Bernheim, a neurose passa a ser relacionada à história do indivíduo, a um conceito mais subjetivo.
Chegando a Freud, no final do século XIX, a neurose ganha maior destaque e passa a ser realmente considerada uma doença psíquica, que considera a história, principalmente a infância do indivíduo e a partir de então, foi se desmembrando em outros “diagnósticos”, como histeria, hipocondria, transtornos obsessivo-compulsivos, ansiedades e outros...
A partir de 1955 as fobias passaram a ser descritas separadamente das neuroses nos manuais médicos.
Na TAS, os sintomas são amplos, variando de indivíduo para indivíduo, tendo a intensidade, a percepção e sintomas particular a cada ser. Seguem alguns sintomas:
Medo e ansiedade excessivos, além do normal
Constante sensação de apreensão
Taquicardia
Tremores
Ruborização
Dificuldade em falar em público
Evitar situações de exposição
Medo de incomodar
Insatisfação com a vida
Sendo os principais sintomas :
Sentimento de inferioridade,
Sentimento de incapacidade
Sensação de estar sendo observado
Medo de ser avaliado pelo outro, por acreditar que essa avaliação sempre será negativa
Em crianças pode ocorrer choro, ataques de raiva, imobilização, comportamento de agarrar-se ou encolher-se em lugares públicos, recusar-se a ir à escola. Em muitos casos o transtorno tem sintomas na infância, ou no início da adolescência sendo raro iniciar após os 25 anos, lembrando que transtornos só são dados como diagnósticos após o inicio da vida adulta.
Para ser considerada TAS os sintomas devem se manter por mais de 6 meses.
Sim é normal sentir medo, ansiedade em situações novas, como no início de uma apresentação, estar em um ambiente novo, um encontro, é normal também que se habitue e relaxe nessas situações ao se familiarizar e constatar que não existe um real perigo, por tanto pessoas nesse quesito não são consideradas fóbicas sociais.
Fóbicos, evitam a situação temida ou a enfrentam com extremo desconforto, pode se preocupar em excesso, criar desculpas para se esquivar da situação, desviar a atenção a outros, podem ser submissos, são extremamente rígido consigo mesmo, podem ser tímidos, reservados, tendem a exercer funções abaixo de sua qualificação profissional, podendo abandonar a escola, perder o emprego com frequência e ter alto índice de absenteísmo e dependência financeira.
O diagnóstico em psicanálise naturalmente é algo complexo, por considerar o indivíduo além dos sintomas e como um todo, com a TAS não seria diferente, deve se levar em consideração, o tempo em que os sintomas se manifestam, o contexto social e cultural onde o indivíduo está inserido e a possibilidade dos sintomas estarem sendo causados por remédios e/ou substâncias químicas ou por uma situação em específico.
Procurando entender a TAS em Freud, podemos pensar que a TAS é produzida por um superego muito exigente, opressor, e com expectativa sobre humana no ideal do eu.
Após o período do complexo de Édipo e a constituição do superego, começa a ser gerada a culpa por desejar o que "não se deve". Existe o desejo de rebelar se, de agredir, de ferir aquele que nos priva de alcançar o objeto libidinal, mas essa manifestação instintiva ocasionaria na perda do amor primordial, e assim um superego exigente em demasia vai se formando. Pode ser consequência de um ambiente hostil e opressor, mas há casos de pessoas criadas em ambientes mais leves e acolhedores que também produziram essa cobrança sobre humana, uma expectativa irreal sobre si.
A sensação de constante angústia, de estar em pecado, de estar errado, de ser insuficiente, é resultado de como o pai simbólico foi internalizado, da forma como lidou com a agressividade, se expressou ou não, se sentiu culpa, pode ser que o ambiente fosse realmente hostil ou não.
Quanto mais o indivíduo inibe seus instintos, mais se angustia, e por isso menos realiza, menos alcança o ideal do eu e mais é punido e massacrado pelo superego, entrando em um looping.
O retorno ao narcisismo primário, onde a libido está sobre o ideal do eu, em si mesmo, e não em um objeto externo que vá lhe trazer um prazer, uma gratificação, ou alimentar seu amor próprio. O ego está frustrado e por isso não consegue amar, não se permite gozar, e quanto mais tem experiências que reafirmam essa sensação mais cobrado é pelo superego, o ego recua mais e intensifica a fobia TAS.
A sensação de estar sendo observado, Freud descreveu como sendo um "Delírio de Observação”. Segundo Freud, esse delírio é a gênese do superego e a origem das fobias.
O superego se desenvolve a partir do ego, após a conclusão do complexo de Édipo, o regulador de nossas ações não é necessariamente externo mas sim interno, os olhos que nos vigiam constantemente. Num complexo de Édipo mal resolvido, o indivíduo se restringe ao desejo, a libido para manter o amor primário. Esse olhar duro do superego sobre o ego faz com que o fóbico se sinta transparente diante do outro, faz com ele acredite que seus pensamentos possam ser ouvidos e que é constantemente observado.
Um caminho para o tratamento da TAS é a terapia, é ir aos poucos experimentando novas situações, conhecendo e se reconhecendo no processo, e sobretudo tendo paciência consigo mesmo, ouvindo o pesado super ego e questiona-lo, se colocar em um lugar de questionador e não acreditar em tudo que a própria mente diz, observar as sensações do corpo e os sentimentos que surgem.
Se houver necessidade de medicação só quem deve receitar é um psiquiatra, mas o acompanhamento deve considerar o ser como um todo, biológico, psíquico, espiritual e social.
“Nunca me reconheci como ansiosa, sou de temperamento mais brando, o que dizem é que sou calma, mas só eu sei o quanto sou tensa e hoje reconheço que o plano de fundo da minha mente e do meu corpo são sintomas de ansiedade, angústia, apreensão, insuficiência, auto cobrança. Descobri isso me aliviou, porque vi que existem outros que passam por isso, e que é possível superar, estou na jornada ainda, uma jornada que nem sempre é fácil, mas que precisa ser travada e que tem bons frutos…”
(M. S - 31 anos)
Você se sente ansioso (a), e isso atrapalha a sua vida, agende uma consulta e inicie o tratamento o quanto antes.