Violência psicológica e manipulação em relacionamentos abusivos
- Valéria Santos
- 19 de mai. de 2023
- 5 min de leitura
Atualizado: 25 de jul. de 2023

A violência psicológica é culturalmente “normalizada”, pois ainda vivemos em uma sociedade machista, e patriarcal, onde a mulher por muito tempo, foi e ainda é vista como inferior, com o dever de ser submissa, com a necessidade de possuir um parceiro para ser socialmente bem aceita, dessa forma relacionamentos são construídos sob uma dinâmica de poder.
É muito difícil para uma mulher identificar e sair de uma relação de abuso, e de manipulação.
Mas o que é uma relação abusiva? O que é violência psicológica? Manipulação? E os homens não sofrem desse tipo de violência?
Violência psicologia, ocorre quando: a sanidade, a integridade, a autoestima, o direito de existir é coloco em risco, quando direitos são privados. Podendo ocorrer em muitas dinâmicas sociais, incluindo filmes, programas de tv, novelas, escola, ambiente religioso e politico, tudo que deslegitima a pessoa, que tem como intenção direta ou subjetiva de desqualificar, diminuir e incapacitar o outro.
Por exemplo, onde deveria haver afeto e confiança, a pessoa utiliza desse lugar, onde a sua fala tem peso sobre a vitima e usa de comentários sexistas, depreciativos, opressores, ameaçadores, humilhando, e manipulando, faz imposição de isolamento, seja restringindo contato com a família, amigos, impedindo de estudar e/ou trabalhar, e até limitando seu direito de ir e vir, pratica de exploração, priva de liberdade financeira, faz chantagem, mente, coage, persegue, a submete a vigilância constante, cerceia a liberdade de crença, chegando a situações onde faz com que a parceira acredite que está “louca” e duvide de sua sanidade mental, questionando a si, se culpando por acreditar que merece tudo pelo qual está passando.
Pode haver apenas uma das ações descrita acima, pode ter varias, pode ter uma nuance em escala menor ou maior.
Relacionamento abusivo, é a prática da violência psicológica e/ou física, podendo ser cometida por homens e mulheres, pai e mãe, podendo ocorrer também em relacionamentos com familiares em geral, amigos e relações trabalhistas. Relações onde o suposto poder de um, inflige sofrimento no outro.
Neste artigo, vou falar sobre relacionamentos de abuso entre casais heterossexuais, em que a maioria das agressões são cometidas por homens sobre suas parceiras.
Considerando que homens podem sim, também, sofrer abuso psicológico e até físico por parte de suas parceiras, mas o índice é consideravelmente menor e por vivermos em regime patriarcal os homens partem do principio de maior poder mantendo assim relacionamentos de poder sobre a mulher. Mulheres que cometem esses abusos podem ser presas, e vão responder conforme a constituição geral, já homens abusadores são enquadrados na Lei Maria da Penha.
Como mencionado a violência psicológica é “normalizada”, pois muitas pessoas ainda acreditam que se não houve violência física, não houve crime, e por isso frequentemente as mulheres demoram a identificar, denunciar, e se afastar dessa dinâmica, pois se para ela que vivencia a violência, a situação é obscura, ela ainda terá de lidar com a sociedade, que muitas vezes vai questionar e minimizar com falas do tipo: “é coisa de homem”, “homem é assim mesmo”, “isso é frescura”. E por isso é muito importante falar sobre o assunto e nomear as violências, e afirmar que: sim, violência psicológica é crime e deve ser denunciada. As mulheres devem procurar por um ambiente seguro e devem ser tratadas com respeito e sem julgamento.
Abusadores dão sinais, desde o começo do relacionamento, pequenos sinais, mas com o passar do tempo, a violência vai ficando mais grosseira e encorpada, vamos brevemente nomear algumas formas de abuso psicológica, que servem como manipulação desde o começo, já no flerte, e acompanha o relacionamento:
Negging: coloca a mulher pra baixo, questionando a inteligência, a beleza da mulher, etc. Pode acontecer no flerte, ele faz uma crítica, a ofende e depois coloca algo positivo, e isso para colocar a mulher em um lugar de não ser boa o suficiente pra esse homem, mas ser grata por mesmo assim ele a querer, exemplo: “seu cabelo é bem estranho, mas até que você tem um rosto bonito”, “você não deve ter estudado esse autor difícil mas deve ter estudado esse outro mais simples”.
Love bombing: aquele homem que bombardeia a mulher com declarações, presentes, que ama demais desde o início, esse “amor” em excesso, faz com que a mulher se sinta em dívida com ele, todo esse “amor” será cobrado, vai fazer a mulher se sentir culpada e vai acabar extremamente sufocada.
Benching: o homem que mantém a mulher no “step”, o homem dá muita atenção, coloca a mulher no alto, e depois some, e não segue com o relacionamento, e depois ele reaparece e retoma como se nada houvesse ocorrido, ele na realidade não se envolve afetivamente, normalmente são ações de homens narcisistas que fazem isso para alimentar o seu ego.
Ghosting: bem parecido com o benching, também é o homem que some, só que nesse caso ocorre quando já existe um relacionamento “sério”, e o homem some sem dar explicações, para de responder mensagem, ligação, e/ou faz tratamento de silêncio, deixando a mulher com toda a carga de culpa, sem entender a causa do distanciamento e se questionando/culpando pelo o que possa ter feito de errado.
Curving/ orbiting: quando o homem fica orbitando, fica ao redor da mulher, sempre mantendo ela ali, dizendo que vai marcar, as vezes aparece, mas a maioria das vezes desmarca, é o homem que se faz presente, por exemplo, curtindo tudo nas suas redes sociais, mas que não se responsabiliza afetivamente, apenas deseja manter a mulher ali disponível.
Hoovering: bem comum quando a relação acaba e o homem fica querendo puxar, manipular a mulher para que ela volte para a relação, por uma não aceitar o rompimento.
Gaslighting: essa forma de abuso psicológico é a mais conhecida, ocorre quando o homem coloca a mulher realmente na situação de duvidar de si, questionar sua própria sanidade, dizendo coisas como “você está louca”, "está inventando coisas”, “a culpa é sua por estamos brigando”, mesmo depois da mulher ter provas concretas, por exemplo, de uma traição, o homem nega e joga toda a responsabilidade sobre a mulher, normalmente ocorre depois da mulher se dar conta de ter sofrido os abusos anteriores, e/ou outros, e começa a falar a questionar e nesse momento o homem inverte o “jogo”.
Mulheres em toda parte mundo, de todo tipo de classe socioeconômica, são submetidas a abusos de todo tipo, o que faz uma mulher permanecer em um relacionamento abusivos não está ligado a condição financeira ou grau de escolaridade. Esta ligado a estrutura psicológica constituída na infância, a repetição de padrões familiares, os padrões sociais, a autoestima e baixa confiança, estes sim são fatores que contribuem para a permanência nesses relacionamentos. Por isso é importante falar sobre esse assunto, nomear as agressões, parar de romantizar os abusos, para auxiliar as mulheres a se reconhecerem e identificarem a real situação em que vivem.
Violência psicológica deixa marcas profundas, e por isso é muito importante procurar ajuda psicológica, terapia, grupos de ajuda, cultivar uma rede de apoio.
Se você conhece uma mulher nessa situação ajude fornecendo informação de qualidade e dando o suporte necessário. Se você é uma mulher em situação de risco, busque por ajuda se fortaleça, você é a única que pode te salvar dessa situação.